Política
Bolsonaro exonera Valeixo do comando da PF e Moro deve pedir demissão hoje
O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Leite Valeixo, foi exonerado do cargo. A exoneração ocorreu “a pedido”, segundo decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, e publicado no “Diário Oficial da União” desta sexta-feira (24).
Moro, no entanto, foi pego de surpresa pela exoneração – que não ocorreu “a pedido” como diz o Diário Oficial – e ficou indignado. O ministro não assinou a demissão e não esperava que isso ocorresse nesta sexta. Como o cargo é de livre nomeação do presidente, o ministro não precisaria assinar o despacho. Moro pretende dar uma entrevista nesta sexta às 11h, quando deverá anunciar sua demissão.
Questionado por apoiadores no fim da tarde, ao chegar à residência oficial do Palácio do Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro não respondeu.
Ainda em 2018, quando comunicou a escolha de Sergio Moro para o Ministério da Justiça, Bolsonaro disse que o ministro teria “carta branca” e que não havia influência dele sobre qualquer cargo da pasta.
Não foi nomeado ainda um substituto para o comando da PF. Entre os nomes cotados estão:
– Alexandre Ramagem, diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ele foi coordenador de segurança de Bolsonaro na campanha de 2018 e se aproximou dos filhos do presidente, mas não conta com o apoio de Moro;
– Anderson Gustavo Torres, secretário de segurança pública do DF;
– Fabio Bordignon, diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), que conta com a aprovação e confiança de Moro.
Conforme informou a colunista Andréia Sadi, Bolsonaro quer Alexandre Ramagem para o comando da PF. O nome dele não tem o apoio de Moro. Ministros da ala militar avaliam que o ministro da Justiça vai deixar o governo.
O G1 questionou o Palácio do Planalto e o Ministério da Justiça por e-mail, por volta das 6h50, sobre o motivo para a exoneração de Valeixo, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Pouco antes das 7h, Bolsonaro fez uma postagem numa rede social, mas ignorou o assunto. O texto que ele publicou trata de obras entregues pelo governo federal.
Bolsonaro, Moro e PF
Bolsonaro avisou a Moro que substituiria o diretor-geral da PF numa reunião às 9h de quinta-feira.
Moro resistiu. Relatos obtidos pelo blog da jornalista do G1 e da TV Globo Andréia Sadi indicam que não houve uma justificativa clara apresentada para a troca. Segundo esses relatos, o problema para Bolsonaro não é Maurício Valeixo, e sim o próprio ministro.
A intenção, segundo interlocutores, seria colocar na PF um nome próximo do presidente. O diretor-geral exonerado é visto como o braço direito de Sergio Moro na pasta. Com a troca, a avaliação é de que o sucessor não teria um perfil similar.
Valeixo foi superintendente da PF no Paraná durante a operação Lava Jato, quando Moro era juiz federal responsável pelos processos da operação na primeira instância. O ministro anunciou a escolha de Valeixo em novembro de 2018, antes mesmo da posse do governo Jair Bolsonaro.
Ao escolher Moro para o cargo, em 2018, Bolsonaro havia prometido “carta-branca”, de modo que o trabalho do ministro não sofresse interferências. Mas, desde então, Bolsonaro e Moro acumulam divergências.
Em agosto de 2019, Bolsonaro já havia feito uma primeira tentativa de trocar o comando da PF, depois de a corporação resistir a uma substituição na superintendência do Rio de Janeiro, que chegou a ser anunciada pelo presidente, mas não foi concretizada.
Na ocasião, Bolsonaro disse que “ele [Valeixo] é subordinado a mim, não ao ministro, deixar bem claro isso aí. Eu é que indico, está na lei, o diretor-geral.”
Avaliação da área militar
No Palácio do Planalto, ministros da área militar avaliavam, na quinta, que a saída de Valeixo pode dar a impressão de que o presidente deseja interferir na Polícia Federal.
Questionado sobre o assunto no fim da tarde de quinta, o chefe da Casa Civil, Braga Netto disse:
“A pergunta sua é por conta dessas notícias que estão correndo. Vou te responder simplesmente o seguinte: a assessoria do ministro Moro já desmentiu a saída dele agora do governo. Tá? Já tá publicada essa informação.”
Fonte: G1
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