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PROIBIDA NO BRASIL: Tela costurada na língua para emagrecer atrai clientes ao Paraguai

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Técnica da malha costurada na língua, como método para emagrecer, não é regulamentada no Brasil, mas brasileiras estão viajando para o Paraguai para se submeter a ela.

Não reconhecida no Brasil, uma técnica para emagrecer está atraindo muitos sul-mato-grossenses ao Paraguai, onde é colocada uma malla (espécie de tela), costurada temporariamente na língua e que faz a pessoa ingerir somente líquidos e ter rápida perda de peso. Segundo especialistas, esta é mais uma das “loucuras” que as pessoas fazem para emagrecer. Eles alertam ainda que além do risco de infecção do procedimento cirúrgico, o paciente pode também desenvolver compulsão alimentar ou então recuperar todo o peso novamente.

A modelo e vendedora externa Susan Tirloni, de 24 anos, passou pelo procedimento há pouco mais de um ano. Como parte da família mora em Ponta Porã, cidade vizinha a Pedro Juan Caballero, onde existe uma clínica que faz o procedimento estético, ela viajou 326 km e investiu cerca de R$ 2 mil.

“Eu falei diretamente com o médico e coloquei a malla, aqui a chamamos de malha. É como se fosse uma tela, uma rede que não te deixa ingerir nada sólido. É como se fosse uma bariátrica e aí, automaticamente, você vai emagrecer bem mais rápido que fazendo dieta ou tomando remédio, por exemplo. É um método menos agressivo que a cirurgia, mas, também há o risco de infecção. Na época, o valor variava entre 500 a 600 dólares”, comentou ao G1 Tirloni.

Ainda conforme a modelo, na ocasião ela passou por uma bateria de exames, tomou vitaminas e tirou todas as medidas. “Depois de colocar a malha fiquei 40 dias de dieta somente com sopas e sucos. É algo que não tem como burlar. Só que eu conheci pessoas que fizeram que chegaram a bater um estrogonofe no liquidificador para tomar ou então passar na peneira. Isso enquanto a família estava em um almoço de domingo e bateu o desespero”, relembrou.

Segundo Susan, a perda no caso dela foi de 12 kg. “Não tive dia do lixo e a intenção era mudar o pensamento, ter uma reeducação alimentar. Só que é muito sofrido, porém, dizem que menos do que uma plástica. Lá disseram que é algo que não tem no Brasil e somente é oferecido no Paraguai e no Canadá, por isso tanta gente vai pra lá eu acredito. E também são várias as restrições, você precisa beber somente no seu copo. E, se acontecer da malha sair do lugar, precisa voltar lá”, comentou.

Atualmente, a modelo conta que está fazendo atividade física acompanhando por um personal, além de ter a ajuda de um nutricionista. “Houve um período em que eu tive depressão e então engordei 25 kg. Com o procedimento, perdi 19, porém, algum tempo depois, ganhei novamente mais 12 kg. Agora, estou fazendo funcional e confiante, quero estar bem com a minha saúde. No caso da malha, uma conhecida minha ia fazer e estava tudo certo, mas, ela desistiu há alguns dias”, alegou.

O personal da Susan, Diego Vasconcelos, de 30 anos, conta que atua na área desde quando era estagiário, sendo que, nos últimos 10 anos, ouviu muitos relatos de uso de medicamentos, além de outros de forma descontrolada. No caso da “malha” na língua, ele diz que é algo que ficou sabendo pela Susan e o deixou surpreso.

“Agora, com certeza, ela vai emagrecer de maneira mais saudável e correta. É um ação conjunta que envolve vários profissionais e eu tenho o feedback de como estão sendo as aulas, converso muito com ela. É um projeto realmente voltado para o emagrecimento, com treinos, além de acompanhamento nutricional e aeróbico”, comentou.

A atendente de telemarketing Camila Porto, de 34 anos, fala que “sempre foi gordinha”, mas, o auge foi quando chegou aos 120 kg. Ela soube de várias técnicas para emagrecer, inclusive a “malha”, porém, nunca teve coragem de fazer métodos radicais. Por último, após insistência do médico, optou em fazer a cirurgia bariátrica e perdeu 50 kg.

“Eu sempre fui acima do peso, só que não consegui controlar mesmo depois do nascimento do meu primeiro filho. Eu estava casada na época e emagrecia e depois engordava. Eu queria fazer tudo que estava na moda e que não fosse radical. Uma vez, decidi tomar o chá da castanha da índia. Na verdade, comprei o suposto chá e o que eu tomei era de uma folha venenosa. Parecia até que eu estava emagrecendo, só que começou a acelerar o meu coração e eu fiquei até inchada, sentindo dormência nas mãos e pés”, relembrou.

Pouco tempo depois, Camila soube da morte de uma mulher em Campo Grande, a qual estava tomando o suposto chá. “Parei de tomar logo em seguida e foi quando comecei a pensa na hipótese da cirurgia. Primeiro fui atrás do balão gástrico, só que o plano de saúde não cobria e eu não tinha R$ 10 mil que eles pediam na época. Foi aí que eu retomei dietas malucas, cheguei a fica quase 1 mês comendo só ovo cozido e indo na academia. Perdi mais 7 kg e acabei desanimando porque era pouco diante ao meu esforço. Logo depois, continuei engordando e fui verificar um problema nos pés e saí de lá sabendo que eu estava com gordura no fígado, hipertensa e em início de diabetes”, contou.

Com todas as consequências por conta do peso, Camila refez os exames médicos e passou pela cirurgia. “Eu estava com medo, ia fazendo os procedimentos e pensando que eu poderia desistir a qualquer momento. O médico me disse: vou te dar 8 dias para ver se você emagrece e aí não fazemos a cirurgia. Mas, quando voltei lá já tinha engordado 5. Fui dos 112 para os 62 kg. Depois, quando fiz, já estava namorando novamente e logo fiquei grávida do meu 2° filho. Só que engordei 8 kg e 20 dias depois dele nascido, já tinha emagrecido. Hoje tenho outra cabeça, rodízio nem pensar e doces somente de vez em quando”, argumentou.

Dieta restritiva podem gerar compulsão alimentar, diz médica

A médica Paula Santiago, de 34 anos, que atua em Campo Grande e São Paulo com medicina preventiva e envelhecimento saudável, fala que já ouviu muitos relatos de “loucuras” feitas por pacientes. “Teve gente que chegou falando que estava fazendo a dieta da sopa, da lua, de 8 maçãs por dia e eu também soube da malha na língua e casos de pessoas que colocaram sondas, somente para ingerir líquidos. Nosso trabalho é preventivo, é necessário entender a fisiologia do paciente, o metabolismo. No meu caso, por exemplo, a medicação é a última medida da dieta”, explicou.

Conforme Santiago, se a pessoa ingeria muito carboidrato, não é “cortando tudo” que ela vai conseguir emagrecer com saúde. “A dieta fica restritiva demais e a possibilidade de voltar ao peso novamente é grande. Além disso, é possível que a pessoa tenha uma compulsão alimentar ou então desenvolva a obesidade”, disse.

CRM-MS diz que entidades não reconhecem eficácia de procedimento

O Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul (CRM-MS) afirma que as entidades responsáveis não reconhecem a eficácia do procedimento de tela na língua, já que pode causar prejuízos à saúde do paciente. Desta forma, o CRM/MS recomenda que médicos não a pratiquem, podendo estar sujeitos a esclarecimentos por infração ao código de ética médica.

Anvisa confirma que técnica é proibida no Brasil

Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ressaltou ao G1 que não legisla sobre nenhum procedimento neste sentido e a regulação, nestes casos, é feitas pelos conselhos das categorias profissionais. Quando se trata de procedimentos médicos no Brasil, a Agência possui o papel de regulamentar as regras de funcionamento, bem como registrar os equipamentos como maquinário, anestésicos e insumos, por exemplo.

No caso da “malha na língua”, a Anvisa fala que, como se trata de algo realizado no exterior, não possui nenhuma ação neste sentido e também afirma não saber de registro de estabelecimento que o façam no Brasil.

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